Lutos


O termo luto refere-se à vivência de pesar que se segue à constatação de uma perda pessoal: morte de alguém próximo; doença do próprio ou de outra pessoa querida (perda da saúde anteriormente percebida); insucesso profissional (perda do emprego desejado ou do sonho de o vir a obter); económica (perda de posses económicas já adquiridas ou desejadas); ou outra perda subjectivamente sentida como muito dolorosa.
Portanto, o que é designado por trabalho de luto, corresponde a um processo de adaptação a perdas sentidas como muito difíceis. É um processo pessoal (cujo decurso difere de pessoa para pessoa) que se vai desenvolvendo de forma individual ao longo do tempo. Pelo que não há formas certas de fazer um luto, tal como não há um tempo aconselhável para o mesmo. Depende. E pode ser mesmo necessário reunir muita força pessoal, e coragem, para suportar o sentimento de dor pelo que se perde. O que não é um processo que deva ser contido ou controlado.
Por um lado, é importante aceitar que estar triste, chorar, ou ficar zangado com acontecimentos frustrantes, dolorosos e revoltantes, está absolutamente dentro do que podemos esperar de qualquer ser humano comum. De super-homens ou supermulheres talvez não se esperasse o mesmo. Mas como esses só existem no mundo da fantasia, quando alguém procura conter ou mesmo negar fortes emoções relacionadas à dor sentida, não será de estranhar que mais cedo ou mais tarde essa contenção deixe de ser conseguida, isso vá resvalar e entrar em falência, e os sentimentos negados venham a dar notícia de si.
Por outro lado, é também importante compreender que adiar a vivência de um sentimento é igualmente legítimo. Pode ser o modo encontrado como estratégia de sobrevivência em determinado momento crítico da vida de todos nós. Mas não é de estranhar, ou seja, não é motivo para culpabilizações, se o que tinha até então sido contido vier a manifestar-se em algum tempo ou de alguma forma. Porque todo o esforço dispendido corresponde a grande cansaço e esgotamento de energia. E assim, passados determinados limites, porque não somos computadores—embora esses também falhem, avariamos. Quero dizer, começamos a dar sinais que notam esse cansaço e necessidade de parar para sentir, viver e analisar, aquilo que se vinha tentando conter, encolher ou negar.
Dora Bicho – Novembro 2015
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