Algumas Notas Sobre o Desenvolvimento Infantil














O bebé nasce dependente.

De quem puder cuidar dele.

Requer que lhe providenciem alimento, proteção, aconchego, e informação sobre o que se passa consigo e o que o circunda. Requer cuidados físicos, e auxílio para a tradução psíquica de sensações físicas e psíquicas.

É esta a importância de uma referência mãe/pai e de quem assumir este papel.

O bebé requer amparo e um modelo que o oriente, e assim o ajude a organizar-se. A, sentindo-se protegido, ir despertando para o mundo circundante, para se aventurar na caminhada da dependência absoluta (dos cuidadores) para a dependência relativa (dos mesmos e de outros).

O bebé requer encontrar no olhar materno, e paterno, o reflexo do encanto que desperta. Requer referências essenciais, que o envolvam e organizem.

Requer, não apenas um, mas mais do que um modelo próximo, que lhe permita a formação de uma identidade própria, em lugar de se constituir como cópia de um só modelo. Requer mais do que um modelo, mas dispensa o excesso e dispersão de modelos.

O bebé, a criança (e o adulto), precisam de um «eu» com o qual se possam governar, para o qual possam retirar-se para repouso, reflexão e planeamento, e ao qual possam ir buscar referências para se relacionarem com o que lhes é exterior. Um «eu» com recursos próprios, motor próprio, e um manual próprio – sempre aberto à atualização.

Para se constituir um «eu», uma identidade, para além de referências e de coerência nessas referências é preciso espaço. Espaço físico e espaço mental.

Um espaço físico poderá ser um canto próprio, à medida daquele «eu», daquela identidade. Inicialmente atribuído pelos cuidadores e tornando-se progressivamente mais autónomo (ou não, no caso de tal não lhe ser permitido); poderá também ser um caderno próprio, uma pasta própria, que contenha as expressões gráficas, plásticas, daquela pessoa única.

Um espaço mental requer… espaço mental. Silêncio. Espaço para o encontro consigo mesmo. Para o diálogo consigo mesmo. Para a reflexão. Para a compreensão autónoma.

Esta organização própria, a apetência à reflexão, é extraordinariamente enriquecida com a aquisição da comunicação por palavras. Esta, permite dispor diante de nós, de forma representada, o que está em nós de forma difusa, não identificada. A utilização de palavras permite-nos expressar/organizar perante nós e perante outros. E para isto é preciso silêncio, tempo, espaço e liberdade.

Não havendo silêncio, tempo, espaço e liberdade, para pensar e expressar por palavras o que vai em nós... havendo mal estar, ele expressa-se fisicamente. Por não terem sido encontradas as formas que permitiriam a sua expressão e confrontação no exterior do organismo.


Dora Bicho – Junho 2015

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