As causas para a obesidade podem ser diversas: excesso de
alimentação, perturbações metabólicas, ou perturbações endócrinas.
Se a obesidade se deve a uma alimentação excessiva, temos um
problema no relacionamento da pessoa com a comida. E se os maiores prazeres do
dia a dia são retirados da comida, sendo esta utilizada como aliviador da
tensão e ansiedade, e isso é feito continuamente, temos uma pessoa dependente
da comida. Nestes casos, o comer serve de aconchego e de ansiolítico, o peso
aumenta, a auto-estima provavelmente não fica aumentada, a capacidade física
não melhora, e o desejo de não ter vontade de comer aumenta na mesma proporção
que a ânsia pelo comer aumenta. É um ciclo vicioso. Isso irá reflectir-se na
saúde de várias formas.
É importante sublinhar que quando falamos de pessoas falamos
de diversidade. Nós somos diferentes uns dos outros e reagimos por isso mesmo
de formas diferentes. Portanto, cada pessoa vive o seu excesso de peso à sua
maneira. O Sr. Y, por exemplo, pode viver razoavelmente bem com os seus 110 kg
de peso, desde que os mesmos não se reflictam na sua saúde física... No
entanto, se a obesidade for sentida como um problema, a solução estará em
preencher a vida com outro tipo de compensações, estará em encontrar aconchego
noutro tipo de actividades.
Que dificuldades psicológicas podem associar-se à obesidade?
Para tentarmos compreender, imaginemos que temos 1,70 metros
de altura e 160 kg de peso – este pedido é apenas para os que estão longe
destas medidas, pois os outros já sabem como é. Imaginemo-nos então com estas
medidas, no reboliço das compras num grande Centro Comercial. Se formos assim
tão volumosos é possível que as pessoas tenham alguma tendência em olhar para
nós, para apreciar melhor a amplitude do nosso volume. E nós, ou somos do tipo
tímido e olhamos para o chão para fugir a um olhar que nos parece acusador, ou
então, olhamos desafiadoramente de frente, como que a perguntar “Quer alguma
coisa de mim?” Acontece que podemos imaginar isto mesmo se o outro olhou
ocasionalmente para nós, não por sermos gordos mas porque trazemos um lindo
cachecol que chamou a atenção. A pessoa com grande excesso de peso pode de
facto pensar assim.
Tudo piora se o peso que transportamos faz com que nos
cansemos na execução das pequenas actividades do dia a dia, se não encontramos
no cinema ou no teatro uma cadeira onde caibamos, ou ainda se nos aventuramos a
viajar de avião e tentamos sentar-nos nas estreitas cadeiras do mesmo.
Encontrar roupa que nos sirva já é difícil, mas encontrar roupa que nos sirva e
que ainda por cima nos agrade... bem, isso já é pedir muito. Enfim, é como se
não tivéssemos lugar neste mundo que parece ter sido construído para os magros.
Tudo isto é stressante, pode contribuir para uma baixa
auto-estima e conduzir à depressão. E a situação pode tornar-se cíclica. Se
isto nos desanima podemos tentar consolar-nos comendo mais alguma coisa, porque
pelo menos enquanto comemos sempre temos algum consolo. E comemos. Comemos
enquanto olhamos o televisor, por exemplo, que nos mostra pessoas lindas.
Lindas em grande parte apenas porque são magras - pensamos nós - e lá vem o
desejo de nos consolarmos com mais um docinho. De facto, quando a pessoa com
excesso de peso está entristecida tem mais vontade de comer. Por isso mesmo não
é fácil cumprir o objectivo de emagrecer, se a isso se propuser.
Depois há outra questão: o desejo de obter resultados rápidos.
Ora, numa sociedade que não se compadece com a morosidade, por vezes estamos
tão habituados a isso que também não temos paciência para aguardar por tão
desejados resultados. Até porque quanto mais gordo se é, mais paciência e
persistência é preciso para conseguir emagrecer. E não é fácil. É realmente
difícil, porque há todo um modo de estar na vida que está em causa, tendo sido
o mesmo que terá conduzido à obesidade.
Pior ainda, é quando se trata de uma criança com grande
excesso de peso, em pleno desenvolvimento psicológico e estruturação da
percepção que tem de si própria. Estas crianças ouvem muitas vezes piadas sobre
o seu peso e volume, por parte de outras crianças ou jovens. Quando assim é, ou
esta criança já tem uma boa e sólida percepção de si própria, bem como uma boa
capacidade de resistência ao stress, saindo-se muito bem na gestão destas
situações, ou então, este factor poderá activar ou confirmar uma percepção de
si própria negativa, implicando isso uma baixa auto-estima.
A situação de excesso de peso pode de facto abalar a
auto-estima do menino ou menina que se sente diferente e é por isso apontado e
mesmo gozado. Acontece o mesmo na adolescência, quando é importante a afirmação
da identidade individual, integração em grupos de pares (parceiros e amigos com
os quais se identifica), identidade sexual e procura de um parceiro amoroso.
Dá o que pensar, não é?
Dora Bicho – Dezembro 2015
http://campopsicologico.blogspot.com/
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