A Riqueza dos Mais Velhos


Pensando no potencial das pessoas mais velhas, há um fator fundamental que lhes permite a possibilidade de assumir uma atitude ativa na comunidade: a grande riqueza dos mais velhos, que algumas comunidades enaltecem e outras esquecem, é a acumulação de conhecimentos teóricos e práticos.

 

Não deixando de tomar em consideração a existência de eventuais limitações que devem ser alvo de cuidadosa atenção para com os mais velhos, a pessoa de longa idade pode, querendo e tendo oportunidade para isso, ser dos mais distintos recursos a que a sociedade pode recorrer. Porque será provavelmente detentora de muito saber acumulado (pela experiência prática e pelo que já conseguiu recolher, assimilar e integrar em teorização disponível), e porque está muitas vezes muito mais disponível (em termos de tempo efetivo e de disponibilidade afetiva).

 

É inegável que o que tem permitido a evolução nas sociedades, é a passagem de testemunho, teórico e prático. E quanto mais longa uma vida, mais acumulada de conhecimentos teórico-práticos ela é. E é muito enriquecedora a disponibilidade de muitos dos nossos respeitosos anciãos e anciãs para ensinarem, para passarem o seu testemunho, desejando deixar como legado o conhecimento adquirido. Desde o marceneiro, ao professor,  investigador, psicólogo, médico, empresário, dona de casa… à mãe, pai, filho, cidadã, elemento do povo…  de há uns bons anos atrás, todos têm potencialmente muito para explicar e  testemunhar a viva voz.

 

Obviamente, as pessoas de longa vida não são necessariamente melhores pessoas por serem mais velhas, e haverá, como noutra idades, as que querem impor as suas ideias, em lugar de partilhá-las. Tal como haverá outras que desejam partilhar o que sabem e deixar o aproveitamento daquilo que transmitem ao critério de cada um. Mas mais que isto, será do cruzamento dinâmico de conhecimentos entre mais novos (com perspetivas nascentes na sociedade mais recente) e mais velhos (com perspetivas amadurecidas num longo caminho já percorrido), cada um com a sua mais valia, que se faz melhor, com mais recursos, porque se tem uma perspetiva histórica, em que se comparam estratégias utilizadas em contextos diferentes e se tiram daí conclusões eventualmente úteis para o presente e para o futuro. Acresce que, podendo dispor de um testemunho na primeira pessoa, teremos um testemunho enriquecido pela expressividade de uma voz, de um rosto, enfim, de uma presença fisicamente viva.

Dora Bicho


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